Por Joana Lopo
Perda de emprego, queda na renda, distanciamento social e um cenário de muita incerteza causados pela pandemia da covid-19 refletiram no resultado da pesquisa realizada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), em parceria com o Instituto Datafolha. Na sua quarta edição, o RX do Investidor Brasileiro, levantamento realizado entre novembro e dezembro do ano passado, nas cinco regiões do país, mostrou que o número de investidor caiu pela primeira vez em quatro anos.
O recuo foi puxado pela saída da classe C, o que demonstra os diferentes reflexos da crise sanitária entre classes sociais. Enquanto as faixas A e B fizeram uma espécie de poupança forçada em função da mudança de hábitos na pandemia, a C foi mais impactada pela perda de emprego e renda. Com isso, as classes A (72%) e B (54%) investiram mais, enquanto a população da C (em torno de 30%) se manteve estável. Esse último grupo corresponde a 74% da população que encerrou 2020 sem nenhum dinheiro investido devido à pandemia.
No total, 53% colocaram o dinheiro em produtos financeiros, sendo 11 pontos percentuais a mais em relação ao mapeamento de 2019. Pela primeira vez, conforme levantamento, a poupança perdeu adeptos. Em contrapartida, cresceram as aplicações em ações, fundos, títulos públicos e privados e, de forma inédita, os produtos financeiros ultrapassaram a soma de todos os outros destinos dados para as economias, alcançando uma população estimada em 20 milhões de brasileiros.
Com os patamares históricos da taxa Selic, em 2020, um grande número de investidores migrou da renda fixa para produtos de maior risco. Os dados mostram que não houve fuga para a segurança, mesmo diante da volatilidade percebida no início da pandemia. Com isso, passada a forte oscilação do primeiro momento, os mercados registraram entrada de recursos e um crescimento constante no número de investidores. Esse movimento reflete o aprendizado por parte do investidor, que sinaliza ter compreendido que volatilidade é parte inerente do mercado e da busca por melhores resultados.
A poupança continua sendo a preferida dos investidores ainda que o conhecimento sobre opções de investimento tenha aumentado. Pessoas de todas as classes e idades (29%) preferem aplicar seus recursos na caderneta, o que representa um contingente de 30 milhões de pessoas das classes A, B e C. Entretanto, paradoxalmente, a poupança sofreu uma queda em 8 pontos percentuais em relação ao ano anterior. Na sequência, as ações negociadas na Bolsa respondem por apenas 3% das aplicações totais; os títulos públicos via Tesouro Direto representam 3%; títulos privados e fundos ficam, cada um, com 5% da carteira do investidor brasileiro.