Por Joana Lopo
O Ibovespa, principal índice da B3, engatou uma nova alta nesta segunda-feira (14) e por pouco não bateu um novo recorde. O índice fechou com ganhos de 0,59%, aos 130.208 pontos. Entre 84 ações em carteira, 58 apontaram para cima. O que explica esta alta se a economia brasileira ainda gera tantas dúvidas? Vale a pena ingressar nesse mercado neste instante?
De acordo com a CEO do grupo financeiro 360iGroup, Ale Boiani, nesse momento a melhor escolha é a opção por carteira de investimentos variados. “É importante mitigar riscos diversificando. Mas isso não importa tanto para os investidores de longo prazo. Como a tendência é de alta, ele não irá se preocupar com a volatilidade momentânea, já que seus ganhos serão ao longo do tempo”, explica.
As recorrentes aItas do mercado, portanto, não são garantia de bons investimentos, como concordam os especialistas. Isso porque, quando os ânimos do mercado elavam a Bolsa com mais frequência, em um determinado momento, é natural que ocorra a queda, a chamada “correção”. Essa é a hora em que o ativo deixa de estar no momento de euforia e volta a ficar próximo do seu valor justo.
Por isso que a analista da Equipe de Análise da Terra Investimentos, Heloise Sanchez, aconselha manter o pé atrás nessas situações. “É mais prudente não cair no efeito manada do “fomo” (Fear of Missing Out) uma vez que todos estão ganhando dinheiro, exceto você. Durante o momento de alta da Bolsa, acaba não sendo o melhor para começar a investir, mas sim de procurar conhecimento para aportar lá na frente, quando houver novo cenário de baixa”, diz ela.
Outro fator analisado é o porquê das altas. Os especialistas ouvidos pelo INEWSBR atribuem o desempenho ao resultado do PIB, a redução dos juros americanos e o salto das importações da China, em maio último. Com isso, o país melhora sua percepção de risco nos mercados internacionais, assumindo papel importante na cadeia de fornecimento.
Para o economista do escritório Acqua Vero Investimentos, Bruno Musa, quando a Bolsa fica exposta às commodities, elas “puxam” o Ibovespa de maneira a compensar setores que, ciclicamente, podem passar por fases de baixa. “A moeda de China, o yuan chinês está mais forte frente ao dólar, isso favorece as importações chinesas. A China está demandando tudo, ela compra mais de 20% das exportações brasileiras e com o real desvalorizado frente ao dólar aumentam as exportações. Essa combinação melhora o PIB, o emprego, os dados fiscais, tendências da dívida frente ao PIB, tudo isso faz a Bolsa subir”, disse ele, que ainda prevê a alta dos juros no Brasil na próxima semana.
Taxa Selic
Diante disso, é preciso atentar também para a elevação da Taxa Selic. Se por um lado ela dá maior segurança fiscal ao país e ao financiamento das contas, por outro, pode aumentar o custo do dinheiro e influenciar as avaliações de preço justo das ações por parte dos analistas.
“Um dos fatores de alta nas bolsas é a queda abrupta das taxas de juros no Brasil e no mundo. Isso faz com que o custo do dinheiro fique mais barato e mais difícil de se arrumar investimentos com boa rentabilidade e elevado grau de segurança, como era na época em que tínhamos taxas na casa dos dois dígitos”, avalia o vice-presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA), Gustavo Casseb Pessoti.
Mesmo com as incertezas fiscais e políticas, além dos impactos econômicos causados pela pandemia da covid-19 há de se manter o otimismo. Segundo o sócio da 051 Capital, especialista em investimentos, Flávio Aragão, o mercado se adaptou às peculiaridades do momento de crise sanitária.
“O que surpreendeu foi que, apesar das restrições terem aumentado em diversas cidades pelo país, o mercado não precificou isso porque não é mais novidade. Agora estou ficando mais otimista. Se o pico da segunda onda da pandemia estiver próximo, o horizonte pode ficar mais claro e reduzir o risco, além de ser positivo para o capital”.
Confiança
Como o futuro é imprevisível, e são muitas as variantes do mercado, os analistas concordam que o momento é de apostar na confiança do empresariado, que aumentará significativamente com a vacinação em massa e geração de empregos. Até porque, mesmo com alta das commodities, a moeda brasileira acompanha incertezas fiscais e se mantém desvalorizada. Então o momento é de cautela.
Para o gerente de análise da Ativa Investimentos, Pedro Serra, a expectativa é que a imunização no Brasil deva ganhar mais impulso no segundo semestre deste ano com uma oferta maior de doses.
“Olhando para o ambiente no Brasil, acredito que os ruídos em relação a política já estão, em sua maioria, precificados, ou seja, colocando na conta um resultado fiscal não muito positivo. Entretanto, caso as reformas administrativas e tributárias avancem, o cenário pode mudar. Por enquanto sigo cautelosos quanto ao sucesso das reformas e consideramos que a recuperação gradual da economia esteja dependente do sucesso da vacinação no país” avalia.