Por mais de uma década, o professor João Paulo Longo, da Universidade de Brasília (UnB), tem se dedicado a encurtar uma das maiores distâncias do país: a que separa a pesquisa científica das inovações que chegam ao mercado. Doutor em nanociência e nanotecnologia, ele é um dos pioneiros no Brasil em transformar descobertas de laboratório em produtos aplicados com impacto direto na indústria — um trabalho que recentemente lhe rendeu destaque em um editorial da revista Nature, uma das mais prestigiadas publicações científicas do mundo.
Longo é cofundador da Glia Innovation, startup que desenvolve matérias-primas nanotecnológicas para o setor cosmético. A empresa, que nasceu de projetos acadêmicos, hoje fornece insumos para mais de 80 indústrias brasileiras e exporta para Colômbia, Peru e Estados Unidos, com planos de expansão para o mercado asiático.
“A inovação é o instrumento de transferência do conhecimento que a própria sociedade paga”, resume o pesquisador. “A gente tenta devolver esse investimento público em forma de valor, competitividade e bem-estar.”
O professor explica que esse processo — de levar a ciência básica para o mercado — é o que chama de “jornada de translação científica”. No Brasil, esse movimento ganhou força a partir do Marco Legal de Inovação, criado em 2016, que facilitou parcerias entre universidades e empresas. Antes disso, docentes e pesquisadores enfrentavam barreiras legais que limitavam a cooperação com o setor produtivo.
Na UnB, Longo transformou o desafio em oportunidade. Ele implementou disciplinas que substituem provas tradicionais por criação de startups tecnológicas, estimulando os alunos a pensar em soluções aplicadas para problemas reais. O impacto já é mensurável: pelo menos oito novas empresas surgiram a partir dessas experiências em sala de aula.
Com um pé na academia e outro no empreendedorismo, João Paulo Longo representa uma nova geração de cientistas que enxerga a inovação como o elo entre pesquisa, desenvolvimento e sociedade. Um modelo que, segundo ele, “não substitui o conhecimento científico — mas o torna acessível, útil e transformador”.
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