Conhecida como a maior região produtora de vinhos em Portugal — e também a que mais exporta para o Brasil —, o Alentejo vive hoje um movimento estratégico para reduzir a dependência histórica de rótulos de entrada e fortalecer sua presença no segmento premium. O objetivo é criar novos ícones capazes de dividir o protagonismo com o rótulo mais célebre do território: o Pêra Manca, vinho da Cartuxa que ultrapassa R$ 3 mil no Brasil e se tornou referência mundial.
O plano é ambicioso. Embora o Alentejo represente 24% de toda a produção vinícola de Portugal, a região responde por apenas 20% do valor econômico gerado pelo setor. Para Luís Sequeira, presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), o cenário evidencia o desafio: “O volume ainda nos guia mais do que o faturamento. A premiumização é o caminho natural”.
Um conjunto de projetos já está em desenvolvimento para ampliar a oferta de rótulos de alta gama. Produtores buscam criar vinhos que disputem visibilidade com o ícone máximo do Alentejo e consolidem a região no mercado global de alto valor agregado. “Quanto mais ícones tivermos, melhor. Queremos conquistar reconhecimento além do Pêra Manca”, afirma Sequeira.
O Brasil ocupa posição central nessa estratégia. Atualmente, é o maior destino dos vinhos do Alentejo no mundo, superando Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha. A tendência de valorização também aparece no consumo brasileiro: crescem principalmente os vinhos acima de R$ 150, faixa premium que mais ganha espaço nas importações, segundo a consultoria IDEAL B.
A transição também é empurrada por fatores produtivos. A baixa produtividade por hectare — cerca de 6,4 toneladas, contra até 30 toneladas em países como Chile ou Nova Zelândia — torna inviável a competição baseada em preço. Assim, qualidade e diferenciação se tornam as únicas vias sustentáveis de crescimento.
Produtores reforçam que o Alentejo já vive um estágio de transformação estética e enológica. Novas gerações exploram desde tintos com madeira até vinhos de ânfora e brancos de guarda. Na Herdade do Rocim, Pedro Ribeiro defende que o Alentejo é hoje um território plural, onde tradição milenar e inovação caminham juntas: “O Pêra Manca simboliza uma era, mas novos grandes vinhos já despontam”.
Além do mercado, o enoturismo se tornou aliado da virada estratégica. Jovens consumidores elevam ticket médio, buscam experiências em adegas e retorno em garrafas adquiridas posteriormente no varejo — especialmente no Brasil.
Com foco em criar valor, ampliar margens e reduzir a dependência do volume bruto, o Alentejo projeta para os próximos cinco anos um salto considerável: 41% de crescimento em valor agregado, superando 1 bilhão de euros.
A região — que deu ao mundo um ícone — agora trabalha para não ser apenas “a terra do Pêra Manca”, mas um polo de diversos grandes vinhos premium, preparados para ocupar as taças brasileiras com protagonismo renovado.
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